Milhares de pessoas possuem diferentes configurações familiares, além de ser muito comum, principalmente na América Latina, a ausência de pais constituindo famílias. Quais são as consequências da ausência do pai em famílias heteronormativas? Dá só uma olhada!
O complexo de Édipo
Ao estudar o inconsciente, Freud traçou um paralelo entre a estória ou mito de Édipo, um Rei da antiga Grécia, e a formação da psique humana, lançando base para o que viria a ser nomeado Complexo de Édipo. Assim, o indivíduo vivencia uma espécie de pressão de forças externas tais como a família, sociedade, religião, leis e outros que se contrastam com o desejo individual do prazer sem limites. Sendo assim, o complexo de Édipo mal resolvido pode ser fonte de angústias, neuroses, perversões e outras formas de distúrbios psíquicos e do comportamento.
No modelo de Édipo trazido por Freud, a busca do prazer é representada pelo desejo para com a mãe, e sua negação pelas forças externas é representada pela figura paterna que, detentora do poder, afasta a criança da mãe (sua fonte de prazer). Assim, criam-se duas figuras: uma potente e capaz de satisfazer seus próprios desejos, e outra impotente, mesmo que não totalmente satisfeita, que submete ao poder do pai, buscando assim garantir o carinho da mãe.
O processo de amadurecimento
A partir do seu próprio processo de amadurecimento, o indivíduo passa a optar em limitar seu prazer pela garantia da manutenção do próprio prazer, sendo parte do prazer que lhes é permitido pelas forças externas (convívio social, aceitação, integração no grupo, pertencimento). Assim, o indivíduo abre mão dos prazeres que lhe são proibidos, uma das saídas possíveis do Édipo. A negação do prazer proibido e da submissão às forças externas encontra seu auge na infância, sendo chamada de fase de latência, e pode representar uma disputa da criança com o pai pelo tempo e atenção que recebe da mãe.
Qual a importância do Édipo?
A mensagem que Édipo traz é um aviso de que a procura do prazer sem restrições, sem considerar o outro (nos tornando cegos para o mundo à nossa volta) nos leva inexoravelmente à solidão pela exclusão do convívio social, do qual deixamos de participar por deixar de respeitar nessa busca por prazer incessante. As regras são referenciais feitas pelos homens para a manutenção do convívio social e podem e devem ser negociadas entre os membros de uma mesma sociedade. Ao ocupar o seu lugar na sociedade, como ser humano adulto, a ex-criança se torna também pai, ou seja, emanador das regras negociadas com seus iguais.
Assim, a psicanálise também se voltou para analisar a situação do pai ausente. Veja abaixo.
Síndrome do pai ausente
Em nossa sociedade, a figura do pai ausente se dá por separação ou por morte do mesmo, por exemplo. Assim, o pai ausente pode se tornar mais presente do que se estivesse convivendo fisicamente com a mesma em sua normalidade.
Muitas famílias hoje em dia têm um pai ausente, que não participa da vida familiar, repassando esse modelo para os seus filhos. O pai ausente é uma das poucas condições que não permitem a saída completa do Édipo fazendo com que a pessoa se torne o “eterno filho” sem assumir a sua posição de adulto responsável.
Estudos apontam que crianças com pais envolvidos em sua educação:
- Têm a autoestima mais elevada;
- São mais seguras emocionalmente;
- Têm menos probabilidade de abandonar os estudos;
- Se envolvem menos com drogas;
- Desenvolvem relações sociais e afetivas mais saudáveis;
- São mais empáticas;
- Vão melhor na escola;
- Tem mais inteligência emocional;
O eterno filho
Ao sentir-se impotente para a manutenção da disciplina da prole, a mãe evoca um pai virtual, que passa a existir dentro da família. Assim, o pai ausente se torna um pai unipresente, existente em todo lugar, virtuoso e sem defeitos, incansável e imbatível, o qual o filho nunca pode derrotar ou superar, se rendendo e se submetendo. Esse “super pai” acompanha o filho por toda a vida, que procura “agradá-lo” para obter sua aprovação (que nunca conseguirá), se tornando o exemplo de bom filho, sempre obediente.
Além de esforços externos, o indivíduo também pode se ver compelido a continuar como eterno filho pelas vantagens que isso traz. Por exemplo, não assumir uma posição adulta, não se responsabilizando por seus atos, não precisa pensar, só obedecer, e outros comportamentos.
Consequências do pai ausente
Um pai que não cumpre seu papel, não desenvolve afeto com as crianças, registrando uma ausência psicológica na vida delas, o que contribui para que desenvolvam traumas emocionais ao longo do seu crescimento, tais como baixa autoestima, comprometimento da saúde física, medo excessivo, baixa qualidade de vida e outros.
O pai ausente faz com que a criança se sinta indesejado, um fardo para alguém que deveria acolhê-la e dar a ela afeto. A baixa autoestima atrapalha o desenvolvimento de suas aptidões pessoais e os convence de que não possuem talentos, sensação que pode se prolongar pela adolescência e maturidade. Casos de sobrepeso e desenvolvimento de obesidade também estão relacionados com pai ou pais negligentes. O abandono afetivo paterno também pode acarretar desequilíbrios hormonais, puberdade precoce, sentimento de impotência.
Como lidar com o pai ausente?
O primeiro passo para lidar com as consequências de um pai ausente é aceitar como você se sente em relação a isso. É importante ter em mente que você não é culpado pelas escolhas dos outros, mas é responsável por traçar o seu próprio caminho, e que ficar remoendo o passado não mudará a situação atual, mas que tem nas suas mãos os recursos para construir a motivação para um novo futuro.
Além disso, é possível ficar em paz ao valorizar mais outras pessoas que tiveram papel fundamental em seu desenvolvimento, como a mãe, os avós, tios ou amigos. Assim, é possível superar essa dor buscando apoio psicológico, para ajudá-lo a ver essa dor por outro prisma.
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