Relacionamentos líquidos

21/05/2021 às 17:30 Coaching

Relacionamentos líquidos

Você já ouviu falar dos relacionamentos líquidos e de como os relacionamentos hoje em dia foram “feitos” para não durar? O que será que está acontecendo com nossas relações? Vejamos um pouco sobre isso abaixo.

O filósofo polonês Zygmunt Bauman nascido em 1925 cunhou o termo “modernidade líquida” para descrever “a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza”, ou seja, diz a respeito de que atualmente os relacionamentos escorrem pelos dedos, e assim como muitas coisas à volta, não são feitos para durar. Dentre outros termos cunhados pelo autor estão o amor líquido e o medo líquido. Seus textos estão voltados para a inter-relação entre modernidade, burocracia, racionalidade e exclusão social.

Segundo ele, a reação do indivíduo moderno em relação ao que lhe é estranho e desconhecido é percebido como algo negativo, que não pode ser controlado ou ordenado, sempre subjacente ao medo

Liquidez

Bauman utiliza o termo “líquido” para descrever as características básicas dos relacionamentos atuais: maleabilidade, fluidez e difusão, tanto na forma como as pessoas se relacionam consigo, quanto com outras pessoas.

Diz respeito a relacionamentos menos duradouros e menos frequentes, nos quais existe um medo difuso (de se expor e se mostrar vulnerável) que faz com que os indivíduos se tornem inseguros e centrados em si mesmos, passando a buscar segurança no prazer imediato que o consumo pode oferecer, no isolamento voluntário, no distanciamento daqueles que lhe são diferentes e na fuga das relações que não suportam erros ou adversidades.

É como se os indivíduos tivessem feito um pacto de abrir mão de sua liberdade para receber benefícios de uma segurança crescentemente individualista, já que os relacionamentos “sólidos” tendem a envolver a descoberta de questões antes não conhecidas e incertezas.

Realidade

Os sujeitos da atual modernidade se tornaram cada vez mais indisponíveis para abrir tempo e espaço para lidar com questões duradouras e suas consequências, sendo que esses valores são tidos como absolutos e imutáveis. Segundo o autor, esses comportamentos são muito influenciados por uma cultura econômica da obsolescência programada, onde nada é feito para durar. Os indivíduos estão voltados ao consumo de coisas cada vez mais novas, diferentes, as quais são valorizadas a partir de sua utilidade para o processo de sobrevivência social.

Com o passar do tempo, as relações estão se tornando cada vez mais superficiais e o contato entre os indivíduos é cada vez menor, parecendo “escorrer pelos dedos” de forma rápida. A perda dos valores de conexão e durabilidade estão se perdendo com o tempo, a partir de uma necessidade quase que obsessiva de reinventar e redefinir valores nada permanentes.

Individualização

Para o filósofo, a individualização é a marca da sociedade moderna, na qual há uma ambivalência no sentido de os indivíduos buscarem cada vez mais autonomia, ao mesmo tempo em que se tornam seres inseguros de se responsabilizar pelo futuro e pelo seu sentido de vida em relação às determinações sociais a que estão expostos. Podemos dizer que o sujeito hoje em dia vive cada vez mais isolado por medo de relacionar-se.

A sensação de vulnerabilidade ao perigo e à insegurança sustenta o medo (real ou muitas vezes imaginado) do sujeito moderno que se isola numa busca de autoproteção. A maioria dos medos modernos estão voltados a situações hipotéticas, ou seja, é um medo descolado da realidade que gera ainda mais ansiedade.

Redes sociais

As relações líquidas, feitas para não durar, podem desmanchar-se a qualquer momento. As pessoas não estão mais dispostas a colocar suas vulnerabilidades e inseguranças à amostra, e nem mesmo enfrentar as dificuldades naturais de um relacionamento verdadeiro, seja ele um relacionamento amoroso ou uma amizade.

Cada vez mais há a tendência de confundir amigos virtuais com vínculos sólidos. As “curtidas” em redes sociais se tornaram uma forma de demonstrar afeto e importância, interpretados por aqueles que a recebem, enquanto na vida “real” esses relacionamentos são inexistentes e onde o afeto não pode ser demonstrado pela segurança de não se aprofundar nos conteúdos que possivelmente surgiriam.

Distinções

Nem sempre as relações “reais” são distinguidas das relações “online”, já que as últimas passaram a predominar por conta da dificuldade de se conectar e facilidade de se desconectar de pessoas. A busca por modos de “excluir” relações não mais desejadas se aproxima muito dos comandos utilizados em ferramentas computadorizadas e da internet, onde pode-se deixar de ter contato com alguém apenas clicando em um botão. Exemplo disso são as opções nas redes sociais de “desfazer amizade”, “deixar de seguir” ou “bloquear” para manter a distância.

Mas a realidade é que não é possível desconectar-se de alguém tão fácil assim, e podemos estar passando por mais prejuízos ao não nos expormos do que benefícios.

Estamos construindo relações cada vez mais frágeis e enfraquecidas, pois embora sejam relações rápidas e com altos níveis de foco no prazer, são relações que estão impedidas de seu desenvolvimento e evolução futuros, gerando uma multidão de indivíduos solitários.

No entanto, mesmo com essa tendência global, não devemos “parar de tentar” nos relacionar, pois a raridade dos relacionamentos reais os tornam ainda mais singulares e valiosos durante este tempo.

Sinais de um relacionamento líquido

Dentre as características desse tipo de relacionamento, temos a transferência de responsabilidade do bem estar social do indivíduo antes provido pelo Estado, para o próprio indivíduo; os vínculos são fragilizados, dando a impressão de que podem acabar a qualquer momento por conta dos erros e equívocos naturais; busca de soluções isoladas para problemas coletivos; aumento da deslealdade conjugal e a despriorização de compromissos e acordos de longo prazo.

O que fazer para fortalecer vínculos?

Passe a valorizar seu tempo com as pessoas, foque sua atenção no momento presente e na vivência que está experimentando no momento junto com as pessoas que lhe são significativas. Procure reconhecer seus erros e acolher os erros dos outros, numa lógica de procurar encontrar soluções para os problemas das relações e não o descarte desta. Seja honesto consigo mesmo e com o que necessita em suas relações interpessoais, comunicando-as aos vínculos mais próximos, já que vínculos se fortalecem na experiência compartilhada de ambos.

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Referências:

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Editora Zahar. 1ª edição. 2001.


Conheça mais:

Rodrigo Huback

Rodrigo Huback Head Trainer de Practitioner PNL, Master PNL, Método B2S e Hipnose Clínica

Mais de 14 anos dedicados ao desenvolvimento humano; Mais de 20 anos empreendendo em alta performance; Pedagogo; Master Trainer em PNL; Master Trainer em Coach; Membro Trainer de Excelência na NLPEA; Membro Trainer da ANLP; Trainer Comportamental; Hipnoterapeuta.


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