Você conhece as contribuições de Alexander Luria para a neuropsicologia? Então dá uma olhada!
Quem foi Alexander Luria?
Alexander Romanovich Luria foi um neuropsicólogo russo-soviético nascido em 16 de julho de 1902 conhecido como o pai da neuropsicologia moderna e contribuiu significativamente para o entendimento dos processos psíquicos. Luria desenvolveu uma série de testes neuropsicológicos durante seu trabalho clínico com pacientes neurológicos vítimas da Segunda Guerra Mundial, a partir do qual fez análises do funcionamento de várias partes do cérebro e suas funções integrativas.
Menos conhecido, antes da Segunda Guerra Mundial, o principal interesse de Luria era a pesquisa da psico-semântica, ou seja, a forma como as pessoas atribuem significado a palavras e instruções. Foi um dos líderes do Círculo de Vygotsky e da Cultural-Historical Psychology. Luria ficou muito conhecido pela publicação dos livros “A mente do mnemonista” sobre Solomon Shereshevsky, um homem com traumatismo craniano severo. Alexander Luria morreu em 14 de agosto de 1977.
A mente de um mnemonista
Em um dia nos anos 1920, um jornalista entrou no laboratório de Luria e pediu que ele testasse sua memória, que recentemente havia sugerido dicas de que seria incomum. Mas sua memória não era incomum, o indivíduo era surpreendentemente retentivo de informações. Luria fez uma série de experimentos com longos números, palavras, sílabas sem sentido e não conseguiu detectar nenhum limite em sua capacidade de lembrá-los, geralmente sem erro, mesmo anos depois. Sua memória era altamente visual, e cinestésica, com uma mistura de sensações que utilizava como técnica para memorizar listas e detalhes. Também utilizava a audição para lembrar palavras, e tinha dificuldade para lembrar de uma palavra cujo som não correspondesse ao significado. Luria relata como o paciente via mentalmente tudo em suas memórias passadas e como lidava com a situação de não esquecer dos fatos.
O que é neuropsicologia?
A neuropsicologia é uma área integrativa da psicologia e da neurologia que estuda as relações entre o cérebro e o comportamento humano. A principal área de aplicação da neuropsicologia é a compreensão de como as lesões, malformações, alterações genéticas ou qualquer agravo que afete o sistema nervoso, causando danos e déficits e alterações em diversas áreas do comportamento e da cognição humana. Assim, a neuropsicologia compreende o estudo das funções mentais superiores, das funções sexuais, a motivação, e fluxos emocionais em abordagens fisiológicas e biológicas (através da neurobiologia, neurofisiologia, psicofisiologia e psicobiologia). Compõe, assim, o campo das neurociências, com ênfase na neurociência cognitiva.
Fundamentos da neuropsicologia
O livro “Fundamentos da Neuropsicologia” é tido por alguns autores como a principal referência de Luria no Brasil. Além de discorrer acerca da plasticidade cerebral, o autor destaca a importância da noção de sistema funcional, ou seja, no qual as funções cerebrais são organizadas a partir da ação de diversos elementos que atuam de forma articulada e podem estar localizados em áreas diferentes do cérebro, não se encontrando necessariamente juntos em pontos específicos do cérebro ou grupos isolados de células. A partir desse conceito de sistema funcional e de plasticidade cerebral, Luria propõe três unidades de funcionamento cerebral. São elas:
- Uma unidade destinada à regulação da atividade cerebral e do estado de vigília, garante a manutenção do nível de atividade apropriado e alerta para a necessidade de mudanças de comportamento e de direcionamento deste para as demandas da situação específica em que o organismo se encontra.
- A segunda unidade seria para recebimento, análise e armazenamento de informações, sendo responsável pela recepção de informações por meio dos órgãos dos sentidos. Estes dados são analisados e integrados em sensações mais complexas, posteriormente sintetizadas em percepções ainda mais complexas.
- Uma terceira unidade que seria dirigida à programação, regulação e controle da atividade do sujeito. Assim, é o organismo alerta que termina formando intenções, constrói programas de ação e realizando esses programas por meio de atos exteriores, motores ou interiores e mentais, sendo responsável por tarefas complexas a partir das intenções iniciais.
O homem com um mundo estilhaçado
O livro recém-publicado no Brasil, “O homem com um mundo estilhaçado” descreve o caso de um sujeito que teve seu cérebro lesionado por fragmentos de um projétil durante a Segunda Guerra Mundial, enfrentando dificuldades em decorrência da perda (ou colapso) de funções cerebrais e mentais específicas, incluindo a perda da memória. Luria acompanhou tal sujeito por mais de 30 anos e apresenta, no livro, uma descrição neurológica do acidente, buscando uma compreensão de um sujeito humano em sua inteireza e complexidade. A principal fonte para esse trabalho foi um diário mantido pelo paciente, do qual Luria extraiu substantiva porção do texto publicado, dando voz ao paciente ou sujeito da pesquisa, uma solução metodológica contemporânea.
Luria no Brasil
Embora Luria seja visto no Brasil como discípulo de Vygotsky, seus trabalhos foram difundidos antes das obras desse pensador e não colaboraram de início. Os primeiros textos de Luria publicados no Brasil foram “Curso de Psicologia Geral” e “Fundamentos de Neuropsicologia” em 1979 e 1981 respectivamente. O primeiro se trata de uma espécie de manual introdutório, em quatro volumes, originalmente destinado a alunos de psicologia, percorrendo didaticamente os temas: cérebro, evolução do psiquismo e atividade consciente, sensações e percepções, atenção e memória; linguagem e pensamento. Luria explora o cérebro como um sistema biológico aberto, em constante interação com o meio físico e social em que o sujeito está inserido, destacando-se a plasticidade cerebral e a ideia de funções mentais superiores tipicamente humanas, construídas ao longo da evolução da espécie.
Luria e a escrita
O neuropsicólogo destaca a função social da escrita e seus usos na sociedade letrada, especialmente para o registro de informações para posterior recuperação e o retrato da interação com o entorno. Luria estudou a apropriação cultural letrada por crianças, principalmente para delinear as funções sociais dessa ferramenta como, por exemplo, o aumento da qualidade de vida no futuro.
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Referências:
OLIVEIRA, M.K. & REGO, T.C. Contribuições da perspectiva histórico-cultural de Luria para a pesquisa contemporânea. Educ. Pesqui. 2010;36.
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