A história da hipnose na Psicanálise e na Psicologia é longa e teve o auge de seu reconhecimento com a utilização das técnicas da hipnose por Sigmund Freud para tratar pacientes nervosos. Mas você conhece a história entre a psicanálise e a hipnose?
A hipnose clínica
A hipnose adentrou o campo médico no século 18. Ao longo do tempo foram adotadas técnicas para auxiliar os tratamentos médicos, na busca de novas terapias.
O uso clínico da hipnose ou hipnoterapia é baseado em um conjunto de técnicas com o objetivo de ampliar a consciência do indivíduo por meio de concentração focada e relaxamento. Sua eficácia tem sido demonstrada para tratar uma série de distúrbios como as fobias, dores crônicas, estresse, angústia, depressão e insônia. As técnicas utilizadas podem variar com as vertentes da hipnose, por exemplo, as abordagens clássica ou ericksoniana:
- Na hipnose clássica, o indivíduo recebe sugestões diretas para adentrar ao estado de transe e experimentar alterações sensoriais e mudanças cognitivo-comportamentais. A firme crença da eficácia da hipnose por meio do sujeito a ser hipnotizado, além do prestígio do hipnólogo, são fatores primordiais para alcançar bons resultados na hipnose clássica.
- Já na abordagem desenvolvida por Milton H. Erickson, um psiquiatra americano que viveu entre 1901 e 1980, são utilizadas induções indiretas, interativas, partindo da observação do cliente (sua comunicação verbal e não verbal) para o tratamento. São utilizadas comumente contos, histórias e metáforas com sugestões embutidas e delineadas a partir de cada demanda, no tratamento com a hipnose Ericksoniana.
Atualmente, a eficácia da hipnose tem se mostrado no manejo de dor crônica em pacientes com fibromialgia refratárias aos medicamentos, tratamento de dores nos membros fantasmas, de depressão consequente de lutos intensos, além de contribuir para a autonomia e ânimo dos pacientes, ampliado interesse pelos afazeres diários, retomada de contatos sociais e melhorias no autocuidado.
Psicanálise e hipnose
Sigmund Freud, um médico austríaco, teve contato com ambas as escolas da hipnose e reconheceu seu valor no emprego do tratamento de histerias, no que hoje se chama de fase pré-psicanalítica, mas a abandonou em 1896, em favor da técnica de associação livre, que adotou como metodologia em seu trabalho. Sua posição teve fundamento com base na indicação de que, para o tratamento psicanalítico, não seria possível basear-se apenas na sugestão ou na persuasão. Esse acontecimento tem sido conhecido como “golpe de força”, que baniu a hipnose da relevância científica para a psicanálise e dificultou seu uso pela psicologia clínica até os anos 1950.
Alguns autores se questionam se a hipnose deveria ser uma prática primordialmente clínica, praticada apenas por médicos. Alguns defendem que o ideal seria a hipnose ser utilizada por profissionais especializados, que possam tratá-lo como método terapêutico, o que traz à tona uma discussão sobre o “charlatanismo” acerca da hipnose e a necessidade de avaliação científica que poderia, teoricamente, ser desenvolvida apenas por profissionais da saúde.
Ao escolher a hipnose como seu primeiro método para a “cura de doentes nervosos”, Freud tornou a hipnose novamente reconhecida, e seus benefícios foram novamente considerados pelo meio clínico, inclusive tendo sido amplo legado deixado como complementar a uma série de escolas de psicoterapia. Freud se questionava sobre a eficácia do tratamento por meio da hipnose devido a confiabilidade das lembranças evocadas pelos sujeitos. Passou a avaliar se as lembranças não seriam, na realidade, frutos de mera sugestão ou da complacência dos sujeitos em relação a seus estimados médicos. Foi assim, então, que a noção de inconsciente independente que resiste ao outro ganhou um papel fundamental, pois ao mesmo tempo em que se poderia resistir ao desejo e às sugestões do terapeuta, ele estaria além das intenções e da vontade dos próprios sujeitos, podendo até contraria as expectativas de ambos. Foi a partir daí que a hipnose deu espaço a campo muito mais amplo de pesquisas voltadas ao inconsciente no campo analítico. A descoberta da transferência voltou o olhar de Freud para outros aspectos que poderiam ser investigados ao longo do processo, já que percebeu que a hipnose encorajava o paciente a agradar o hipnólogo, ao invés de aprender realmente sobre a origem dos sintomas.
A hipnose contribuiu até mesmo para o desenvolvimento de uma escola terapêutica que hoje se chama de Terapia Familiar Sistêmica e embora envolvida em algumas polêmicas com relação à sua consideração científica, continua demonstrando resultados positivos para tratar alguns casos.
Registro
Hoje em dia a hipnose tem sua aplicação autorizada e reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia, por meio da resolução 013/2000. O primeiro órgão a regulamentar a utilização da hipnose por profissionais da saúde foi o Conselho Federal de Medicina (CFM). Vale ressaltar que além do CRM e do CRP, os Conselhos Federal de Odontologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional também autorizam e regulamentam a utilização da hipnose por seus profissionais.
A hipnose vem ganhando visibilidade e espaço com a inclusão do uso terapêutico da hipnose (hipnoterapia) à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS).
No contexto da Psicologia, o Conselho considera a hipnose como recurso auxiliar e coadjuvante do trabalho do psicólogo, sobretudo na abordagem Ericksoniana, que possui valor científico e aplicação prática na resolução de problemas individuais, demonstrando como essa pode ser uma ferramenta útil aos profissionais.
Novas aplicações na psicologia
A prática da hipnose nos traz a possibilidade de lidar com a mente para transformá-la, mesmo quando isso não é cientificamente explicável. Sua importância continua sendo reconhecida e novas pesquisas têm sido realizadas para correlacionar a atividade cerebral durante a hipnose e seus resultados.
Na clínica atual, a psicologia em geral, não apenas a psicanálise, utilizam a hipnose para tratar distúrbios como fobias, depressão, síndrome do pânico, vícios, transtornos alimentares, ansiedade, insônia, problemas sexuais como impotência, ejaculação precoce e diminuição da libido, além de ser útil no tratamento de doenças psicossomáticas e dores crônicas.
Algumas aplicações da hipnose na terapia são: a hipnoanálise (análise feita sob o estado de transe), a escrita automática, a regressão de idade para tratar traumas e outras questões, a indução de sonhos, as sugestões pós-hipnóticas, as entrevistas sobre hipnose, a dessensibilização sistemática por exemplo na exposição a elementos fóbicos, e também pode ser associada ao psicodrama e às técnicas de projeção do futuro, entre outras.
Técnicas cognitivas de atenção, foco e mindfulness, podem gerar maior capacidade de resposta a uma sugestão. A hipnose é indicada sempre que alguma questão não esteja disponível para acesso por meio da mente consciente. É um recurso de acesso ao inconsciente, muito útil na análise de pessoas em sofrimento psíquico.
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Referências:
ALARCÃO, G.G. & MOTA, A. História crítica da hipnose na psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Brasil, entre 1930-1970. Interface. 2019.
GLASS, A.W. & REALE, E.A. A hipnose como aliada terapêutica. FASB. 2019.
NEUBERN, M.S. Hipnose e psicológica clínica: problemas clínicos, epistemológicos e históricos. Univ. Ci. Saúde. 2004;2(1).
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