Diversas abordagens da saúde mental buscam compreender o trauma para poder intervir e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos vitimizados. Você conhece as contribuições da psicanálise para a superação de traumas? Entenda abaixo.
Construção do conceito de trauma em Freud
Freud construiu uma noção empírica de trauma a partir da observação e tratamento de pacientes neuróticos que sofriam por acontecimentos (reais ou fantasiados) ocorridos no passado. Em especial, se dedicou ao estudo da histeria, uma psicopatologia cuja origem estava em um acontecimento traumático de natureza emocional, muitas vezes de conteúdo sexual, ainda que pudesse ocorrer apenas em pessoas organicamente predispostas.
A noção de libido é extremamente significativa para a compreensão da noção de Freud acerca do trauma. Assim, a libido é um tipo de energia que é represada, desviada ou descarregada, podendo ter reações distintas a traumas diferentes.
Freud concebia o trauma como um afluxo excessivo de excitação, que procurava uma via de descarga. Assim, o trauma é um acontecimento de natureza psíquica, no qual o indivíduo está sujeito a uma excitação que não pode ser eliminada, seja pela proibição ou pela incapacidade devido ao momento de seu desenvolvimento psíquico.
O conceito de trauma em Winnicott
Para Winnicott, um trauma é aquilo contra o que um indivíduo não possui defesa organizada, de maneira que um estado de confusão sobrevém, seguido por uma reorganização de defesas de um tipo mais primitivo do que as que eram suficientemente boas antes da ocorrência do trauma.
O mais grave dos traumas é aquele que torna impossível ou precária a organização de si mesmo e a estruturação da personalidade. Assim, esse tipo de trauma corresponde a uma falha do ambiente no atendimento às necessidades básicas do bebê: a se continuar sendo. Winnicott perpassa todas as faixas etárias para compreender o sentido do trauma em cada uma delas, em termos relacionais de maneira que ilustra o tipo de relação inter-humana que significa termos de continuidade de ser e confiabilidade no ambiente, o que permite que o indivíduo se desenvolva com qualidade de vida.
A noção de trauma psíquico em Ferenczi
Para o autor Sandor Ferenczi, o trauma psíquico é um estado de passividade e suspensão de todo tipo de percepção resultantes de um choque inesperado, não preparado e esmagador. As impressões sensíveis traumáticas permanecem inacessíveis às tentativas de rememoração.
Psiquiatria e traumas
A noção do traumático advinda dos estudos em psicanálise também começaram a ser fazer presente na psiquiatria a partir de uma patologia específica: o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) que dá privilégio à ocorrência de eventos traumáticos como possíveis causadores de uma perturbação mental. O TEPT apareceu pela primeira vez enquanto categoria nosológica no DSM-III em 1980 e suas características e a construção da categoria foi fruto de intensas e complexas negociações no campo da saúde mental, a partir de estudos com veteranos da Guerra do Vietnã que buscavam um reconhecimento público de sua condição de sofrimento, deixando de ser vistos como vilões para passarem a ser vistos como vítimas. A emergência do TEPT representa um momento de mudança paradigmática no que diz respeito à compreensão do trauma.
Quais as intervenções possíveis?
Segundo alguns autores, muitas pessoas que vivenciam traumas optam por procurar ajuda de um profissional da saúde mental. Por isso, é importante que o profissional tenha a percepção do sujeito perante a sua particularidade e subjetividade em relação ao que foi vivenciado, para compreender o acontecimento traumático e como o sujeito se vê diante disso.
Além disso, busca-se desenvolver a resiliência adquirida perante a situação vivenciada, buscando recursos próprios para resolver seus conflitos, o que favorece possíveis diagnósticos e intervenções, visando reduzir os prejuízos na condução da rotina de vida e motivação de cada pessoa.
Psicanálise e ressignificação do trauma
Apesar do trauma ter diferentes vertentes, é fundamental ressaltar a individualidade do sujeito no trauma. É preciso pensar no sujeito como um todo, levando em consideração as relações sociais, familiares e o contexto psicossocial, para só assim entender como cada pessoa reage frente a um evento traumático. O analista vai atuar perante o trauma com relação à fala do paciente que traz angústia, sendo esses sofrimentos advindos de catástrofes individuais, coletivas ou mundiais, as quais podem ser simbolizadas como sintomas na psicanálise, os quais se pretende ressignificar.
Não é o evento traumático em si, mas a lembrança que se tem dele após toda a reestruturação das experiências que afetam o indivíduo, a partir dessa ruptura protetiva da defesa, causada pela superabundância de excitações. O que se pretende é a reorganização da fantasia do sujeito, para que perca toda a força da cena que lhe causou o trauma.
O papel do psicanalista
Assim, o psicanalista deve fazer com que o sujeito que vivencia o trauma saia dessa posição por meio da interpretação do sintoma, ou seja, não fazendo com que elimine o trauma, mas que possa fazer escolhas a partir do que lhe é doloroso. Esse trabalho é baseado na escuta, visando a percepção do contexto em que o indivíduo está inserido, sua situação de vulnerabilidade, e fatores que podem desencadear a vulnerabilidade excessiva no indivíduo. Assim, a psicanálise se revela de grande contribuição para superação de traumas e continua desenvolvendo-se para ampliar a resiliência e qualidade de vida de indivíduos vítimas de traumas.
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Referências:
ALBUQUERQUE, M. et al. Trauma na visão da psicanálise. UNIVAG. 2018.
FULGENCIO, L. A noção de trauma em Freud e Winnicott. Nat. hum. 2004;6(2).
OLIVEIRA, S.M. O traumático na psicanálise e psiquiatria: implicações ético-políticas. Physis. 2015;25(1).
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