Você sabia que experiências infantis podem nos levar a ter diferentes tipos de relacionamento? O Complexo de Cinderela é um livro que aborda esse tema. Você conhece? Então vem dar uma olhada!
O que é o complexo de Cinderela?
Descrito pela primeira vez pela autora Colette Dowling, o Complexo de Cinderela é um livro sobre o medo da independência vivenciado por mulheres, uma espécie de desejo inconsciente de ser cuidada por outras pessoas, o que se torna mais aparente à medida em que a pessoa envelhece.
Dowling é uma escritora americana, criada em Baltimore, formada no Trinity College em Washington, Estados Unidos. Formada em serviço social e especialista em psicanálise no Instituto Contemporâneo de Psicoterapia na cidade de Nova Iorque, seu livro é um best-seller vendido internacionalmente em mais de 23 idiomas. Atualmente trabalha como psicoterapeuta em Manhattan e continua escrevendo.
Inspiração para o título
O nome escolhido para o complexo vem do conto de fadas Cinderela, que é baseado na ideia da feminilidade retratada como uma mulher bonita, graciosa, educada, solidária, trabalhadora, independente e difamada pelas mulheres de sua sociedade, mas que não é capaz de mudar sua situação com suas próprias ações sem ter a ajuda de uma força externa, geralmente um homem (ou seja, o Príncipe).
Na realidade, poderia-se colocar o nome de qualquer uma das princesas dos contos de fadas conhecidos.
O que é o Complexo de Cinderela?
O complexo de Cinderela se refere ao desejo quase sempre inconsciente de parte das mulheres de serem protegidas e cuidadas por um companheiro idealizado na imaginação, com as características de um príncipe que se vê nos contos de fadas. Como na fantasia, a mulher só consegue modificar o curso de sua vida tendo o príncipe (um homem) como seu referencial.
Origem do Complexo de Cinderela
O Complexo de Cinderela tem sua origem na infância e pode afetar as relações pessoais e amorosas no futuro, além de afetar a autonomia colocando-a em um lugar de cuidadora da casa ou criadora dos filhos.
Incentivar meninos e meninas a acreditarem em contos de fadas, além de acostumá-los com tarefas socialmente designadas aos gêneros (para as meninas, cuidar da casa; para os meninos, trabalhar) podem desencadear traços de co-dependência no futuro, afetando significativamente a qualidade de vida e a saúde desta mulher.
Complexo de Cinderela e co-dependência
O Complexo de Cinderela dialoga com a co-dependência, que é a condição psicológica na qual o indivíduo repete os mesmos comportamentos ineficazes de quando era criança com o objetivo de ser aceito, amado e importante, na tentativa de aliviar a dor e o sofrimento por sentir-se abandonado. A “Cinderela” do complexo pode, por exemplo, não encontrar seu Príncipe, enfrentar a realidade de que ninguém vive para salvar o outro e de que o autocuidado deve ser voltado, primeiramente, para si mesma.
A formação do vínculo
Quando a formação do vínculo com os cuidadores primários, a pessoa co-dependente pode apresentar:
- instabilidade
- impulsividade
- medo
- insegurança
- dificuldade em expressar sentimentos
- incerteza do futuro, medo de errar
- culpa
- justificativa para o insucesso
- necessidade de ser útil acompanhada de sofrimento
- competição e disputa para sempre ter razão
- ambivalência entre afeto, raiva e frustração
- baixa auto-estima
- ansiedade em querer mudar o outro e controlá-lo
- excessiva negação
- vitimização
- estresse
- indignação
- mágoa
- falta de afeto
- desvalorização
- doenças psicossomáticas
- depressão
- abatimento
- mau humor
- decepção
- desespero e outros.
Sentimentos envolvidos na co-dependência
Além disso, a pessoa co-dependente pode passar por uma série de sentimentos, dentre os quais se destacam insatisfação, desrespeito, pena, violência, raiva, exploração, desprezo, comparação, distanciamento e abandono.
Pode apresentar dificuldade na identificação da auto-imagem, dificuldade em expressar ou identificar sentimentos, vitimização, ansiedade em relação à intimidade, além de compulsividade e distorção de limite, assumir indevidamente a responsabilidade, recorrentemente assumem relacionamentos com pessoas “conturbadas” e podem ser vítimas de vários abusos.
A relação co-dependente
Autores propõem que a relação de dependência pode ser definida por quatro elementos:
- Motivacional: refere-se à necessidade de suporte, orientação e aprovação.
- Afetivo: está relacionado à ansiedade sentida pelo indivíduo diante de situações em que precisa agir independentemente.
- Comportamental: a tendência de buscar ajuda dos outros e submissão nas interações interpessoais.
- Cognitivo: remete à percepção do sujeito como impotente e ineficaz.
Como evitar o Complexo de Cinderela?
Uma das formas de evitar o desenvolvimento do Complexo de Cinderela, os pais de filhas mulheres devem incentivar a autonomia, bem como a preparação e capacitação pessoal antes de sair de casa ou se casar. Com filhos homens, é preciso acostumá-los a ajudar nas tarefas do lar. Assim, crescerão com a ideia de que precisam ajudar suas mulheres a cuidar da casa.
Além disso, incentive seus filhos e filhas a sonharem, a terem metas de vida que, no futuro, possam aspirar em se transformar para, depois, ter uma relação de casal saudável e equilibrada.
Tratamento psicológico para a co-dependência
A abordagem psicológica para o tratamento da co-dependência é voltada para a dificuldade do indivíduo, que sofre ao chocar-se com suas mudanças emocionais e comportamentais na tentativa de melhoria na relação com o outro. Existem pessoas que passam toda uma vida relutantes à experiência angustiante do processo de separação de relacionamentos tóxicos e disfuncionais, que afetam sua resiliência.
Embora todos precisamos de afeição, proteção e sermos ajudados em certos momentos pontuais da vida, isso não deve se tornar uma regra mas, sim, uma exceção.
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Referências:
BUTION, D.C. & WECHSLER, A.M. Dependência emocional: uma revisão sistemática da literatura. Est. Intern. Psicol. 2016;7(1).
CARVALHO, L.S. & NEGREIROS, F. A co-dependência na perspectiva de quem sofre. Bol. psicol. 2011;61(135).
DOWLING, N. O Complexo de Cinderela. Editora Melhoramentos. 1ª edição. 2012.
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