A sociedade tem caminhado para reconhecer as especificidades de cada indivíduo e suas comunidades. Você conhece pessoas neurodiversas? Vem dar uma olhada nesse conceito conosco!
O que é neurodiversidade?
O termo neurodiversidade foi cunhado pela socióloga australiana e portadora da síndrome de Asperger Judy Singer em 1999, em seu texto “Por que você não pode ser normal uma vez na sua vida? De um ‘problema sem nome’ para a emergência de uma nova categoria de diferença” (Editora Singer, 1999). É um termo que tenta salientar que uma "conexão neurológica" (neurological wiring) atípica (ou neurodivergente) não é uma doença a ser tratada e, se for possível, curada. Trata-se antes de uma diferença humana que deve ser respeitada como outras diferenças (sexuais, raciais, entre outras).
Os indivíduos neurodiversos
Os indivíduos autodenominados "neurodiversos" consideram-se "neurologicamente diferentes", ou "neuroatípicos". Pessoas diagnosticadas com autismo, e mais especificamente portadores de formas mais brandas do transtorno, os chamados autistas de "alto funcionamento" frequentemente diagnosticados com a síndrome de Asperger, são a força motriz por trás do movimento. Para eles, o autismo não é uma doença, mas uma parte constitutiva do que eles são. Procurar uma cura implica assumir que o autismo é uma doença, não uma "nova categoria de diferença humana".
O surgimento do movimento de neurodiversidade
O aparecimento do movimento de neurodiversidade tornou-se possível por vários fenômenos: principalmente a influência do feminismo, que forneceu às mães a autoconfiança necessária para questionarem o modelo psicanalítico dominante que as culpava pelo transtorno autista dos filhos; a ascensão de grupos de apoio aos pacientes e a subsequente diminuição da autoridade dos médicos, possibilitadas pelo surgimento da Internet, que facilitou tanto a organização dos grupos, como a livre transmissão de informações sem mediação dos médicos; finalmente, o crescimento de movimentos políticos de deficientes, movimentos de autodefesa e auto-advocacia de deficientes, especialmente de surdos, que estimulou a auto-representação da identidade autista.
A neurodiversidade é uma doença?
Segundo os adeptos do movimento, se a neurodiversidade ou “neuroatipicidade” é uma doença, então a “neurotipicidade” também é. Estudos demonstram que indivíduos neurotípicos frequentemente assumem que sua experiência do mundo é a única ou a única correta. Neurotípicos acham difícil ficar sozinhos e, em geral, são aparentemente intolerantes às menores diferenças uns dos outros.
Crescimento do movimento
A proliferação nos últimos anos dos movimentos da neurodiversidade e o aumento de sua exposição na mídia têm intensificado o embate político entre os ativistas do movimento autista e as organizações de pais e profissionais dos grupos pró-cura. Nesses debates, é apresentada a posição dos ativistas autistas que consideram o autismo como parte essencial do que eles são e se opõem à cura. Recentemente, o número de páginas na Internet que exprimem a “cultura autista”, por exemplo, tem crescido como forma de afirmar a identidade autista, celebrando essa subcultura através de indicações de literatura de ficção e especializada sobre os mais diversos aspectos do transtorno.
O objetivo dos movimentos
O objetivo fundamental dos movimentos é promover a conscientização e o empowerment da cultura autista, que inclui a comemoração do "Dia do Orgulho Autista" (do inglês “Autistic pride day”), que, inspirado pelo Dia do Orgulho Gay, é festejado no dia 18 de junho como celebração da neurodiversidade dos autistas. Dentre os encontros realizados, temas como “aceitação, não cura”, “celebrando a neurodiversidade”, “autismo fala. É hora de escutar” e outros foram celebrados. No Brasil, o Movimento Orgulho Autista Brasil é recente e integra uma rede de países que comemora a neurodiversidade nesta data. Em 2005, o Dia do Orgulho Autista foi realizado em Brasília, demonstrando essa integração.
Dentre as associações mais conhecidas que apoiam a causa estão a Associação de Amigos de Autistas (AMA) e a Associação de Amigos da Criança Autista (AUMA).
Divergências que embasam o movimento
Um dos pontos principais do conflito com a tentativa de encaixe da população neurodiversa se encontra no que diz respeito à terapia cognitiva ABA (Análise Aplicada do Comportamento), que para muitos pais constitui a única terapia que permite que as crianças autistas realizem algum progresso no estabelecimento de contato visual e em certas tarefas cognitivas. Para os ativistas autistas, a terapia reprime a forma de expressão natural dos autistas, conferindo-lhes prejuízo na qualidade de vida e bem estar.
O autismo não é doença
Assim, os argumentos defendidos pelos movimentos da neurodiversidade de que o autismo não é uma doença e as tentativas de cura, uma afronta contra os autistas podem fornecer razões para recusar o financiamento das terapias. Esse fato provoca a irritação de pais e profissionais que lutam pela implantação e custeio público das terapias.
Modelo social da deficiência
O modelo social da deficiência surge como uma alternativa ao modelo hegemônico médico-individual com sua ênfase no diagnóstico e que constroi o indivíduo deficiente como sujeito dependente. Para os teóricos do modelo social, a deficiência não é uma tragédia pessoal; é um problema social e político. Ela não existe para além da cultura e do horizonte social que a descreve como tal e nunca pode ser reduzida ao nível biológico e/ou patológico. Para eles, só existem atributos ou características do indivíduo considerados problemáticos ou desvantajosos em si por vivermos em um ambiente social que considera esses atributos como desvantajosos.
Promoção de acessibilidade
Um exemplo do problema da acessibilidade é, por exemplo, andar de cadeira de rodas é um problema apenas por vivermos em um mundo cheio de escadas, e consideramos deficientes indivíduos que não olham nos olhos quando se comunicam, como é o caso dos autistas, apenas por que nossa sociedade estabelece o contacto visual como um elemento básico da interação humana. Assim, a neurodiversidade busca incluir formas de promover acessibilidade para todos, e não negligenciar as diferentes formas de ser e se manifestar.
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Referências:
ORTEGA, F. Deficiência, autismo e neurodiversidade. Ciênc. saúde coletiva. 2009;14(1).
ORTEGA, F. O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Mana. 2008;14(2).
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