“A fraqueza da memória dá força ao homem”.
Não há como iniciar este conteúdo sobre memória seletiva sem citar a frase final do poema Elogio do Esquecimento, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Afinal, nosso cérebro é como um HD interno que trabalha arquivando e salvando novas informações todos os milissegundos de nossa vida.
E este “arquivamento” de informações é extremamente importante. Afinal, imagina se você se lembrasse de absolutamente tudo que viveu? Além de extremamente desgastante, isso é um prato cheio para ansiedade e sobrecarga mental.
Caso o nosso cérebro fosse usado na sua máxima capacidade, poderia acomodar um petabyte de informação, ou seja, cerca de um milhão de gigas, segundo cientistas do Salk Institute.
Seria muito informação para se guardar, não é mesmo?
Entenda como a memória seletiva funciona
A memória seletiva pode ser compreendida sob dois pontos de vista diferentes, mas que se complementam. São eles: os processos neurobiológicos e os processos psicológicos; vamos entender cada um deles
O processo neurobiológico
A memória seletiva pode ser entendida em termos dos estágios principais do processo de memória: codificação, consolidação, armazenamento e recuperação.
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Codificação: Neste estágio, a informação sensorial é convertida em um formato que o cérebro pode usar para formar memórias. A atenção desempenha um papel crucial na codificação seletiva. Se uma pessoa está focada em um aspecto específico de uma experiência, esse aspecto é mais provável de ser codificado e lembrado. Regiões como o córtex pré-frontal, envolvido no processamento de informações, e o hipocampo, essencial para a formação de memórias, desempenham papéis importantes nessa fase.
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Consolidação: Depois que as informações são codificadas, elas precisam ser consolidadas, ou seja, armazenadas de forma mais permanente no cérebro. A ativação neural repetida durante o sono REM e outras fases do sono é importante para a transferência de informações do hipocampo para regiões corticais mais amplas, permitindo o armazenamento de longo prazo.
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Armazenamento: As memórias podem ser armazenadas em várias regiões do cérebro, dependendo do tipo de memória. Por exemplo, memórias episódicas (relativas a eventos específicos) são frequentemente associadas ao córtex pré-frontal, enquanto memórias procedimentais (habilidades) podem estar ligadas a áreas como o cerebelo. A memória seletiva pode ocorrer durante o armazenamento, onde informações mais emocionalmente relevantes ou significativas podem ser retidas de forma mais eficaz.
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Recuperação: Quando precisamos lembrar algo, entramos na fase de recuperação. A recuperação envolve a ativação de padrões neurais semelhantes aos padrões que foram criados durante a codificação. No entanto, a recuperação também é suscetível a influências contextuais, emoções e sugestões externas. Memórias emocionais, por exemplo, podem ser recuperadas mais facilmente devido à ativação do sistema límbico, que está envolvido nas emoções.
O processo psicológico
De um ponto de vista psicológico, a memória seletiva pode estar relacionada a vieses cognitivos, como:
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Viés de confirmação: As pessoas tendem a lembrar mais facilmente informações que confirmam suas crenças e ignoram informações que contradizem essas crenças.
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Efeito de recência: As pessoas tendem a lembrar mais facilmente informações recentes em comparação com informações mais antigas.
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Efeito de destaque: Eventos emocionalmente intensos e significativos muitas vezes são lembrados com mais facilidade do que eventos neutros.
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Foco seletivo: Quando as pessoas estão focadas em uma tarefa específica ou têm interesse em um tópico, elas podem lembrar melhor as informações relevantes a esse tópico.
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Sobrecarga de informações: Quando somos bombardeados por muitas informações, nossos cérebros podem filtrar e reter apenas as informações mais relevantes ou notáveis.
Será possível manipular a memória seletiva?
A memória seletiva funciona de forma bastante automática sem que tenhamos consciência do que se lembra e ainda menos do que se esquece.
Isso mostra que as nossas memórias não podem ser manipuladas diretamente. Afinal, não podemos escolher conscientemente quais elementos desejamos lembrar e quais não.
Contudo, existem certas linhas de pesquisa que têm explorado a manipulação geral de memória e que vem obtendo resultados bastante interessantes, incluindo a hipnose que, embora seja frequentemente retratada na mídia como uma ferramenta que pode manipular memórias de forma dramática, a realidade é mais complexa.
A hipnose pode influenciar a memória de diferentes maneiras:
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Aumentar a sugestionabilidade: Durante um estado hipnótico, algumas pessoas podem se tornar mais sugestionáveis e aceitar sugestões de forma mais fácil. Isso pode levar a uma alteração temporária na percepção de eventos passados, mas não necessariamente implica uma manipulação permanente da memória.
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Recuperação de memória: Alguns terapeutas usam a hipnose para auxiliar na recuperação de memórias reprimidas.
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Reinterpretação de memória: Em terapia, a hipnose também pode ser usada para ajudar as pessoas a reinterpretar ou recontextualizar memórias traumáticas, permitindo-lhes processar essas memórias de maneira mais saudável.
Em resumo, a hipnose pode ter efeitos na memória e na percepção de eventos passados, mas seu uso é complexo e controverso. Se você estiver interessado em explorar a hipnose para questões de memória ou outros propósitos terapêuticos, sugerimos que você conheça a Formação em Hipnose do IBND.
Até a próxima!
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