Luto

26/04/2021 às 23:31 Hipnose

Luto

Você sabe o que é o luto? Sabia que em situações de perda passamos por todo um processo de reconstrução e reorganização? Vamos refletir um pouco sobre esse assunto abaixo.

Mesmo em meio ao contato com tantas mortes por conta da pandemia do Coronavírus, a morte ainda continua sendo um tabu para muitos. O medo de entrar em contato com a possibilidade da morte, da finitude e da perda tem estado presente em muitas pessoas no último ano. Somado a isso, a morte é envolta de mistérios e crenças acerca de sua finitude.

O luto é um conceito psicológico caracterizado pela perda de um elo ou vínculo significativo entre uma pessoa e seu objeto, sendo um fenômeno mental natural e parte constante do processo de desenvolvimento humano. É uma resposta saudável a um fator estressante importante para o ser humano que é a perda de alguém ou algo significativo, e também se constitui de uma importante transição psicossocial, com impacto em todas as áreas da vida do enlutado, o que requer cuidado e monitoramento efetivo.

Tanatologia

A tanatologia é a especialidade da ciência que estuda a morte e as relações do homem com esta e suas consequências, buscando aprofundar os conhecimentos e aplicações dessa área para tratamentos mais adequados, humanizados e dignos para quem sofre com a ausência de um ente querido ou com a proximidade de sua própria morte ou de pessoas significativas. Trata-se da pesquisa de questões como: saber lidar com vida e morte, aprender a morrer, enfrentar a morte e a ausência física, reorganizar a vida, entre outras.

Características do luto

A morte desencadeia diversas reações na emoção e na razão, desarticula a mente, aflora sentimentos complexos e aponta necessidades a serem supridas. Mudanças no humor e no padrão comportamental, dificuldade para concentrar-se, comportamento agressivo diante dos outros e de si mesmo, fadiga, perda na regulação do sono, da forma e dos autocuidados em consonância com diversos sentimentos, intensificam-se e se associam ao modo como o indivíduo vai responder ao acontecimento estressor.

Dentre as características do luto e da melancolia após uma perda, podemos elencar: um profundo desânimo, perda do interesse pelo mundo externo, inibição da atividade em geral e incapacidade de amar. Há uma diminuição da autoestima acompanhada de auto-acusações e até mesmo punições, dependendo da interpretação que se faz da perda.

Morte

Vivemos constantemente numa dinâmica entre os dois pólos da existência humana: a vida e a morte. Por muito tempo, a morte foi considerada como natural ao ser humano, uma etapa tranquila e resignada da vida, a qual ocorria em sua maioria nas casas dos indivíduos, que morriam junto às suas famílias. A morte ocorria no ambiente familiar e as cerimônias de despedida ocorriam publicamente, num local onde todos se sentiam autorizados a expressar seus sentimentos pela perda. Ao longo do tempo, a humanidade foi associando a morte com o fracasso em relação à vida, ressaltando sentimentos de impotência diante da mesma. Sua dificuldade para elaborar, dar significado, ao ato da morte foi levando o ser humano a desenvolver formas “sobrenaturais” de lidar com a morte e com a finitude, deslocando sua dificuldade de elaboração do ocorrido em algo além da vida.

Inconformismo

Ao passo que a ciência e a medicina avançaram em sua capacidade para adiar a morte, o inconformismo diante do inevitável cresceu e as dificuldades para elaborar o luto se tornaram maiores. A sociedade cada vez mais impossibilita espaços para a expressão da dor advinda da morte, então ela passa a ficar reprimida, escondida e solitária, agravando a situação. Essa impossibilidade de expressar a dor contribui para aumentar o desconforto das repercussões da perda e podem, muitas vezes, ter consequências maiores do que a perda em si.

Luto patológico

O luto patológico é aquele considerado prolongado, perpassado de sentimentos de melancolia e dificuldade de superar a fase depressiva do ciclo do luto para que se possa fortalecer as estruturas internas que sustentam a segurança pessoal retirada pela perda do elo. Geralmente resultante do abafamento de sentimentos, o luto prolongado não consegue se desligar da conexão antes existente e muitas vezes uma revolta para com a perda ocorrida.

Pequenos lutos

Conseguimos reconhecer com facilidade os processos de luto quando estamos diante, por exemplo, da morte de alguém significativo. No entanto, não é apenas no contato com a morte que o luto se manifesta. Ele pode ser vivenciado nas perdas que vivenciamos ao longo da vida, mesmo com elos profissionais, sociais e familiares.

Quando ocorre uma perda, o indivíduo passa por um processo que pode ser considerado um processo lento e penoso em que uma série de emoções perpassam o organismo. Quando a morte ou a perda ocorre de modo trágico e repentino, a tendência é que ocorram uma série de alterações na vida da pessoa, acarretando prejuízos e alterações nos funcionamentos emocionais e cognitivos.

No entanto, as perdas do dia a dia, as frustrações com a aleatoriedade da vida e a resistência à mudanças lentificam a aceitação do ocorrido e a busca pela superação da impotência que a perda traz. Todos os tipos de perdas acabam afetando as pessoas que raramente saem ilesas desse pesar.

Fases do luto

Segundo a pesquisadora e psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, o luto passa por cinco estágios. Ao contrário do que se pensa, as fases do luto não ocorrem necessariamente em uma ordem específica, e não há regra: nem todos irão passar por todos os estágios do luto, assim como alguns podem vivenciar algumas etapas do luto repetidamente.

1. Negação: nesse primeiro estágio, o indivíduo busca o isolamento após a notícia da perda. É a fase em que o indivíduo precisa parar e respirar um pouco para que se acostume com a situação.

2. Raiva: o segundo estágio do luto surge quando já não é mais possível negar o fato de que a perda é irreversível, surgindo os sentimentos de revolta, inveja e ressentimento. Há o questionamento inconformado do porquê a situação ter ocorrido e é uma fase marcada por projeções da raiva no ambiente externo e pelo sentimento de inconformismo.

3. Barganha: nesse estágio, o indivíduo começa a ter esperança em alguma intervenção dividina que interviria pelo prolongamento da vida em troca de méritos que acredita ter ou ações que promete empreender em troca da volta do objeto perdido.

4. Depressão: estágio em que os sentimentos de debilitação e tristeza, acompanhados de solidão e saudade, acometem o enlutado. Nessa fase, é muito importante cercar-se de pessoas com quem possa falar abertamente e contar com suporte, para conseguir superar as angústias e ansiedades geradas pela perda.

5. Aceitação: após ter vivenciado e externalizado seus sentimentos e angústias, a tendência é que o enlutado aceite a inevitabilidade da perda e se direcione para a contemplação do fim de uma forma em que a saudade se torna mais sossegada e o indivíduo começa a ter condições de reorganizar sua vida.

Fatores

Dentre os fatores que agravam o luto, o grau de parentesco, o gênero, o tipo de morte, os vínculos estabelecidos e os recursos internos para elaborar ou não o luto estão presentes. Não possuir recursos ou ter recursos escassos para processar o luto e se reajustar acabam complicando o enfrentamento. Algumas pessoas se encontram incapazes de se controlar, não conseguem manifestar suas tristezas, fragilidades e vulnerabilidades. Por fim, receber apoio suficiente para enfrentar a situação pode amenizar o sofrimento, sendo que isso depende da abertura e coragem da pessoa enlutada para solicitar algum tipo de auxílio que necessite.

Percepções

Existem muitas formas de perceber a morte e isso abre margem para que ela deixe de ser um tabu acerca de mistérios e crenças para ser encarada tal como é: uma fase inadiável da vida. Uma das formas de responder saudavelmente ao luto é encontrar um meio de expressar a dor, seja reconhecendo sua existência, se reajustando às necessidades trazidas pela perda e/ou investindo em novos vínculos.

A esperança está presente em todas as fases do luto e é fundamental para acompanhar o enlutado a sair de uma inação ou reação muito grande ao acontecido.

Se você ou alguém que você conhece está passando por um luto devido a uma perda de pessoa significativa ou expectativa de vida muito grande, ajude-o a encontrar ajuda com um profissional da saúde mental.

Referências:

BASSO, L.A. & WAINER, R. Luto e perdas repentinas: contribuições da terapia cognitivo-comportamental. Rev. Bras. Ter. Cogn. 2011;7(1).

CAVALCANTI, A.K.S. et al. O conceito psicanalítico do luto: uma perspectiva a partir de Freud e Klein. Psicol. Inf. 2013;17(17).

MENDLOWICZ, E. O luto e seus destinos. Ágora. 2000;3(2).

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Conheça mais:

Rodrigo Huback

Rodrigo Huback Head Trainer de Practitioner PNL, Master PNL, Método B2S e Hipnose Clínica

Mais de 14 anos dedicados ao desenvolvimento humano; Mais de 20 anos empreendendo em alta performance; Pedagogo; Master Trainer em PNL; Master Trainer em Coach; Membro Trainer de Excelência na NLPEA; Membro Trainer da ANLP; Trainer Comportamental; Hipnoterapeuta.


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