Problemas de abandono do ensino e distorção entre idade e série escolar são problemas recorrentes no cenário educacional brasileiro. No entanto, os níveis de evasão escolar têm aumentado durante a pandemia. Quais os motivos?
Ambiente escolar e pandemia
O vírus não se propaga sozinho, dessa forma as escolas foram consideradas locais de perigo para a contaminação de crianças, professores, profissionais e famílias. As aulas presenciais foram suspensas e o fechamento das escolas acarretou a necessidade de adoção emergencial do ensino remoto.
O ensino remoto é uma modalidade de ensino que pressupõe o distanciamento geográfico de professores e alunos, e foi adotada de forma temporária em diferentes níveis de ensino por instituições educacionais no mundo inteiro para que as atividades escolares não sejam interrompidas. Dessa forma, o ensino presencial físico precisou ser transposto para os meios digitais. Nessa modalidade de ensino remoto, a aula ocorre em tempo síncrono (seguindo os princípios do ensino presencial), com videoaula, aula expositiva por webconferência e atividades durante a semana no espaço virtual de aprendizagem de forma assíncrona.
A presença física do professor e dos alunos no espaço da sala de aula presencial é substituída por uma presença digital em aulas online, projetando sua “presença social” por meio da tecnologia.
No entanto, nem todos os alunos possuem condições para acessar as aulas por meio online. Muitos não possuem aparelhos eletrônicos ou internet, além das dificuldades de aprendizagem por meio online.
O que é evasão escolar?
A evasão escolar é o aluno sair da escola com probabilidade de retorno, mas se o estudante deixa a escola definitivamente, podemos chamar de abandono escolar. A evasão e reprovação escolar aparecem no cenário educacional como um problema significativo, pois as consequências levam os indivíduos à exclusão social, a baixa qualidade de vida, e baixa autoconfiança e outros.
A repetência escolar ou reprovação está relacionada aos vários fatores de natureza socioeconômicos, a organização escolar, condições de vida, físicas e psicológicas, características individuais do aluno, condições familiares, o corpo docente, a interação com o professor e aluno, mas o fator mais determinante é o fato de a escola, na sua organização curricular e metodológica, não estar preparada para utilizar procedimentos didáticos adequados para trabalhar com crianças e adolescentes menos favorecidos economicamente.
Diversos estudos enfatizam que uma família desestruturada, a falta de políticas públicas e de ações dos governos, a falta de emprego, desnutrição, gravidez na adolescência e até a própria escola podem ser fatores determinantes para a exclusão social e educacional.
Os reflexos da evasão escolar na pandemia ocasionam situações como:
1. Interrupção do aprendizado;
2. Alimentação escolar;
3. Adaptação dos professores a nova realidade tecnológica;
4. Pais sem preparação para as atividades em ensino remoto e em casa;
5. Desafio nas melhorias e manutenção do ensino remoto;
6. Lacunas de assistência às crianças;
7. Aumento na taxa de evasão escolar;
8. Isolamento social das crianças;
9. Desafios para validar e medir o aprendizado.
Estimativas da evasão escolar
Em 2020, cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes ficaram sem acesso à educação. A quantidade de crianças e adolescentes que abandonaram as instituições de ensino foi de 1,38 milhões, o que representa 3,8% dos estudantes. Além disso, cerca de 4,12 milhões de estudantes, apesar de matriculados e sem estar de férias, não receberam nenhuma atividade escolar, resultado do ensino pautado em aulas online.
Os problemas financeiros estão entre as principais causas da desistência em 2020, com 19% das pessoas ficaram sem condições de pagar a escola ou faculdade e 7% precisaram ajudar na renda familiar. Outros 22% relataram o abandono por terem ficado sem aula e 20% relataram dificuldades com o ensino remoto.
A evasão escolar afeta diretamente a economia de um país, desde os índices de violência até a expectativa de vida da população. Segundo algumas pesquisas, brasileiros com educação básica completa tem em média quatro anos a mais de vida do que quem abandonou os estudos. Estima-se que a cada jovem que abandona a escola, o país perde R$300 mil e cerca de 550 homicídios por ano podem estar correlacionados.
Ações de combate à evasão durante a pandemia
É importante que as equipes da educação precisam centrar-se em ações práticas de combate à evasão de alunos. É preciso focar em ações eficientes, tais como:
- Estreitar o relacionamento: é preciso que a instituição entenda o que seus alunos e responsáveis estão sentindo. Abrir canais de comunicação clara e segura é essencial para se aproximar dos alunos.
- Disponibilizar aulas online: é importante manter a possibilidade de disponibilizar aulas online, já que ainda não temos uma data final para a pandemia. É preciso deixar claro o funcionamento das aulas online, oferecendo o suporte para os estudantes.
- Envolver o corpo docente: professores são elos importantes entre a instituição e o aluno. É importante dar suporte aos professores para criar aulas de vídeo e utilizar as ferramentas online para otimizar o aprendizado.
- Marque encontros: crie encontros online entre os alunos e promova a interação entre eles e com os professores.
- Contar com colaboradores para novas ideias: como o cenário é de adaptação dos alunos e do corpo docente, é preciso buscar novas ferramentas para o desenvolvimento das aulas.
- Ficar de olho na educação infantil: atenção redobrada é necessário nesse segmento da educação, pois sofre impactos mais desafiadores se comparados ao ensino superior.
- Flexibilizar: com o aumento do desemprego, muitos alunos ficaram desempregados, aumentando sua inadimplência. Flexibilize políticas de pagamento ao máximo, dentro da viabilidade econômica.
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Referências:
JUNIOR, J.F.S. & MORAES, C.C.P. A covid-19 e os reflexões sociais do fechamento das escolas. Dialogia. 2020;36.
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