Você já ouviu falar de pessoas que tomam medicamentos por conta própria para dormir ou relaxantes musculares ao fim de um longo dia de trabalho? Vivemos uma epidemia de uso de medicamentos, principalmente psicotrópicos. Quais serão as consequências desse uso nocivo? Dá só uma olhada!
Utilização de medicamentos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define, de forma abrangente, a utilização de medicamentos como a comercialização, distribuição, prescrição e uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase especial sobre as consequências médicas, sociais e econômicas resultantes do uso destes.
O mercado farmacêutico é um dos que mais cresce e está em expansão em todo o mundo, associado com técnicas agressivas de marketing para a busca “milagrosa” para a qualidade de vida desejada. A população brasileira é uma das maiores consumidoras de medicamentos do mundo.
Medicamentos psicotrópicos
Os medicamentos chamados psicotrópicos são substâncias que agem no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. Essas substâncias químicas atuam sobre a função psicológica e alteram o estado mental, incluídos os medicamentos com ações antidepressiva, alucinógena e/ou tranquilizante.
O uso de medicamentos psicotrópicos tem crescido consideravelmente no mundo todo nas últimas décadas, muito em função da melhora nos diagnósticos de transtornos psiquiátricos, do aparecimento de novos fármacos no mercado terapêutico e das novas indicações terapêuticas para os fármacos já existentes.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada dez pessoas no mundo sofrem de algum transtorno de saúde mental. Estima-se que doenças mentais e neurológicas atinjam aproximadamente 700 milhões de pessoas e representam 13% do total das doenças do mundo. Cerca de 350 milhões de pessoas deverão sofrer de depressão e 90 milhões terão algum distúrbio pelo abuso ou dependência de psicotrópicos nos próximos anos.
Além disso, em países subdesenvolvidos como o Brasil, a presença de desigualdades no acesso aos serviços de saúde mental podem agravar o uso nocivo ou a dependência de medicamentos psicotrópicos.
Farmacoepidemiologia
A farmacoepidemiologia ou epidemia do medicamento surgiu da interseção da farmacologia clínica com a epidemiologia. Após o início do século 20, uma reviravolta no campo dos medicamentos foi realizada, já que até então o arsenal terapêutico era constituído por poucos fármacos.
Estudos revelam que a utilização de medicamentos psicotrópicos vem sendo empregada para a intervenção de quaisquer mal-estar do indivíduo, quer em momentos de tristeza, desamparo, insegurança, angústia, ansiedade ou até mesmo ausência de felicidade. Dessa forma, uma tendência à “psiquiatrização” da vida social transforma todo e qualquer mal-estar em doença, incentivando processos terapêuticos advindos dos recursos químicos.
Somado à essa epidemia de uso desenfreado de medicamentos, as fronteiras entre o normal e o patológico parece estar se tornando cada vez mais indeterminada, móvel e instável, de forma que a medicalização de comportamentos rotulados como anormais passou a se estender praticamente a todos os domínios da existência humana.
Farmacovigilância
Já a farmacovigilância abrange a identificação e a avaliação dos efeitos do uso, agudo e crônico, dos tratamentos farmacológicos no conjunto da população ou em subgrupos de pacientes expostos a tratamentos específicos. A farmacovigilância se preocupa, principalmente, em estudar as reações adversas aos medicamentos, quando usados de forma recomendada ou em casos de automedicação.
Os estudos dos efeitos colaterais de medicamentos se dá de duas formas: por meio de estudos epidemiológicos descritivos ou analíticos, e por meio de sistema de notificação espontânea.
Por outro lado, pesquisadores relatam que a medicalização ou dependência de medicamentos é um problema de saúde pública devido ao aumento vertiginoso de medicamentos e seu uso irracional.
Farmacodependência e saúde mental
A dependência ou uso irracional de medicamentos também é um problema na área da saúde mental. O profissional da saúde deve se atentar à possibilidade de dependência, principalmente na presença de fatores de risco tais como o uso inadequado por idosos e usuários das demais faixas etárias, poliusuários de drogas, tentativa de alívio do estresse ou doenças psiquiátricas e distúrbios do sono. É comum observar overdose de psicofármacos entre as tentativas de suicídio, associadas ou não a outras substâncias.
Efeitos do uso nocivo de medicamentos
Os efeitos do uso nocivo de medicamentos psicotrópicos podem ser classificados em:
- Depressores: barbitúricos, benzodiazepínicos, opiáceos, etanol, inalantes; diminuem a atividade mental, reduzindo o tônus psíquico, ou seja, faz com que o cérebro funcione lentamente, reduzindo a atividade motora, a concentração e a capacidade intelectual.
- Estimulantes: anfetaminas e derivados; são aquelas que potencializam a capacidade intelectual, a atividade mental e aceleram a atividade de determinados sistemas neuronais, trazendo como implicação um estado de insônia e aceleração dos processos psíquicos.
- Perturbadores: ecstasy e canabinóides; são aquelas que causam confusão mental, agem modificando qualitativamente e produzindo desvios de percepções de tempo ou espaço, produzem distorções no funcionamento do cérebro, como alucinações e delírios.
- Alucinógenos: drogas ilícitas como o LSD.
Esses efeitos nocivos decorrentes do uso nocivo de substâncias psicotrópicas podem trazer efeitos biológicos na saúde, agudos ou a curto prazo, efeitos crônicos na saúde, acidentes causados pelo efeito da substância na coordenação motora, concentração e julgamento em circunstâncias em que essas qualidades são exigidas. Além disso, o uso nocivo destas substâncias traz problemas sociais agudos, como faltas no trabalho, no papel familiar e outros. Sempre procure a orientação médica para utilizar seus medicamentos de forma adequada e caso sinta necessidade de alterar o medicamento ou a dose, confirme com seu médico antes.
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Referências:
CASTRO, C.G.S.O. coord. Estudos de utilização de medicamentos: noções básicas. Editora FIOCRUZ. 2000.
CAVALCANTE, D.M. & CABRAL, B.E.B. Uso de medicamentos psicotrópicos e repercussões existenciais para usuários de um CAPS II. Estud. psicol. 2017;22(3).
MOURA, D.C.N. et al. Uso abusivo de psicotrópicos pela demanda da estratégia saúde da família: revisão integrativa da literatura. SANARE. 2016;15(2).
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